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JABA RECORDATI S.A. - Portugal

Portugal tem cerca de 50% da produtividade por hora de trabalho quando comparada com a União Europeia. E porquê?

Definir este tema é como definir o Inferno e o Paraíso:

 

Paraíso

Aquele lugar onde o humor é britânico, os cozinheiros Italianos, os mecânicos Alemães, os amantes são Portugueses e tudo é organizado pelos Suiços.

Inferno

Aquele lugar onde o humor é Alemão, os cozinheiros são Britânicos, os mecânicos Italianos, os amantes são Suiços e tudo é organizado pelos Portugueses.

Nelson Pires

Agora a sério, em primeiro lugar, há que ressalvar que a produtividade é um conceito complexo e com múltiplas perspetivas possíveis.

Adicionalmente, a produtividade pode ser analisada a diversos níveis, nomeadamente ao nível da empresa, conjuntos de empresas e nações.

De uma forma simples e ao nível de uma empresa, a produtividade pode ser entendida como o quociente entre o que a empresa produz (output) e o que ela consome (input).

Assim, a produtividade representa a eficiência com que se usam os recursos para produzir produtos/serviços. Uma empresa que fabrique bicicletas terá uma produtividade de trabalho que resulta do cálculo do número total de bicicletas produzidas a dividir pelo número de trabalhadores, num espaço de tempo.

O exemplo permite-nos perceber que o volume produzido está dependente de outros fatores para além do trabalho dos funcionários.

As instalações da empresa e as condições físicas do trabalho, as máquinas e ferramentas usadas na produção, as próprias matérias primas, o nível de investimento em desenvolvimento de processos produtivos e dos produtos, as tecnologias usadas, a organização do trabalho, entre outros fatores possíveis, vão naturalmente impactar a capacidade de produção.

Portanto, a produtividade do trabalho reflete, de forma parcial, a eficiência do fator trabalho – seja em termos de capacidades dos trabalhadores ou da eficiência do seu esforço.

Uma outra perspetiva sobre a produtividade tem em conta os valores de mercado. A produtividade do trabalho, de um determinado país, pode ser medida baseada no PIB, que representa o valor de mercado de todos os bens e serviços produzidos, num ano, nesse país.

A produtividade bruta do trabalho será o quociente entre o PIB e a população empregada. Esta forma de medição usa uma lógica de agregação de valor: é tida em conta toda a produção de um país, a preços de mercado. Não estamos a falar apenas de eficiência de fatores produtivos, mas também do valor criado.

Um exemplo simples: se uma empresa desenvolver uma nova tecnologia para bicicletas de competição e criar uma marca sob a qual apresentará os novos produtos ao mercado conseguirá, possivelmente, oferecer algo diferenciado dos seus competidores.

Existirá então um valor maior na sua oferta ao mercado. Este diferencial de valor contribui, como é fácil de entender, para a produtividade pois o output da empresa será contabilizado a preços de mercado e incluirá um valor que não existiria sem a marca e a inovação tecnológica.

Fica evidente que um aumento de produtividade pode também ser o resultado da criação de valor. E isto funciona tanto a nível de uma empresa, como na agregação de todas as empresas, a nível nacional.

 

Portugal ter um baixo indíce de produtividade é culpa das entidades patronais, da hierarquia, dos trabalhadores?

Há essencialmente 2 causas teóricas, por um lado, com a mesma quantidade de trabalho fazemos menos quantidade de produto do que a generalidade dos nossos concorrentes (por exemplo, com uma hora de trabalho fabricamos menos rolhas do que os nossos concorrentes) – problema de eficiência.

Por outro lado, com a mesma quantidade de trabalho produzimos produtos de menor valor acrescentado quando comparados com os produzidos pelos nossos concorrentes (por exemplo, enquanto nos dedicamos à montagem de telemóveis, os nossos concorrentes orientam os seus esforços no desenvolvimento tecnológico dos telemóveis e nós apenas a montá-los) – problema de posicionamento na cadeia de valor.

A culpa é um pouco de todos, a mão de obra é um dos fatores produtivos e, portanto, faz naturalmente parte do cálculo da produtividade. Contudo, é apenas um dos fatores e nesse sentido a culpa da baixa produtividade vai, claramente, muito para além da mão de obra. A responsabilidade predominante vai para os detentores do capital e dos gestores.

A produtividade do trabalho está dependente da forma como os fatores de produção são organizados, dos montantes de capital e da forma como estes são investidos na produção (e, já agora, do acesso a financiamento), da competência dos empresários, e das condições que o Estado cria à atividade destes e das suas empresas.

Adicionalmente, a produtividade é o resultado também do valor agregado que se consegue criar.

Ser produtivo não significa estar sempre a trabalhar, ou sair tarde do trabalho só porque a cultura da organização assim o dita. Em Portugal existe a necessidade de mostrar que se trabalha muitas horas, mas no fundo o que se produz é muito pouco. Quem não entra no jogo desta aparência é visto como um desinteressado pela organização e acaba por ser despedido ou colocado de lado.

 

E como podemos melhorar a produtividade?

Com melhores gestores, fundamentalmente com investimentos de qualidade e níveis de escolaridade mais elevados. Dispomos de um baixo nível de capital por trabalhador. Sem investimento, o progresso tecnológico não é incorporado no produto, e isso não acontece na grande maioria dos países europeus. Amplos e efetivos benefícios fiscais, para quem investir em tecnologias mais produtivas, certamente ajudariam a incentivar a mudança (embora em Portugal também existem programas deste formato). Investimentos estrangeiros são bem-vindos e trazem progresso, mas não se pode tratar as empresas Portuguesas de forma diferente, para pior.

Outra prioridade é vocacionar o ensino e a formação para aumentar a produtividade e não para matérias que apenas contribuem para o ego de alguns (Teoria escolástica). Melhorar as mobilidades dos trabalhadores também é necessário. Demorar menos tempo no trajeto casa-trabalho evita cansaços e custos desnecessários. Pensar a longo prazo e não a curto, sendo que para isso é necessário apoiar e incentivar programas de I&D (Investigação e Desenvolvimento) mesmo nas pequenas e médias empresas.

A inovação de algumas empresas permite aumentar a produtividade global da economia via concorrência. Os concorrentes ou também inovam ou são naturalmente excluídos do mercado, dando lugar a empresas mais produtivas.

Para responder às variáveis altamente dinâmicas da atualidade, outra sugestão para aumentar a produtividade do trabalho é implementar estratégias de flexibilidade do trabalho (por ex. rotação de tarefas, ou rotação de cargos e funções), que são benéficas para o surgimento de inovação por parte dos trabalhadores, pois estimula comportamentos inovadores.

Estas mobilidades reduzem ainda as barreiras à comunicação. A “accountability” do trabalho estimula a criatividade, autonomia e inovação, já que os trabalhadores têm que desenvolver novas estratégias e habilidades para se manterem competitivos. Estimula ainda a cooperação e a partilha do conhecimento. A mistura e cruzamento de conhecimentos disponíveis pode originar a criação de novos conhecimentos, mais produtivos que os anteriores.

Em suma, é mesmo uma questão mais de liderança (ou “desliderança”) do que apenas cultural Portuguesa!

 


 

Fonte: Executive Digest