Associação de indacaterol, brometo de gli- copirrónio e mometasona "vem colmatar o problema de baixa adesão à terapêutica", quando se sabe que mais de 40% dos doentes não têm a asma controlada, sublinha o diretor-geral da Jaba Recordati.
Tradicionalmente, estamos na Cardiologia (muito focados na hipertensão e colesterol) e na Urologia (nas áreas da hiperplasia benigna da próstata e cancro da próstata). Temos uma vasta gama de OTC e medicamentos genéricos. Estamos também na área da Gastroenterologia.
Fizemo-lo em fevereiro, em parceria com a Novartis. Queremos tratar os doentes ainda melhor. Para nós, a decisão de entrar numa nova área terapêutica tem sempre por base duas premissas: ser um produto inovador e trazer um valor acrescentado aos doentes e profissionais de saúde.
Este produto é o primeiro tratamento em formato de associação tripla para o tratamento da asma e proporciona o preenchimento de uma necessidade terapêutica não satisfeita. Queremos diferenciação e não sermos mais uma companhia a entrar no mercado com um produto igual ao dos outros.
Vem colmatar a necessidade de maior eficácia que é obtida com as moléculas "gold standard" de cada uma, colmatar o problema de baixa adesão à terapêutica.
Cerca de 43% dos doentes não têm a asma controlada e 88% desses doentes não têm a perceção de que a sua asma não está controlada. Cerca de 23% ainda recorrem a serviços de urgências devido a crises de asma. A associação tripla é a sinergia das três moléculas, que permite maior eficácia no tratamento da asma em relação às associações duplas, obviamente de acordo com a indicação do medicamento.
Para além disto, o dispositivo traz uma novidade, que permite ao doente perceber se fez uma administração total da dose - o que é uma mais-valia para o doente.
Continuamos a fazer a visitas no terreno, nomeadamente para as especialidades de Pneumologia e Imunoalergologia, mas também na especialidade de Medicina Geral e Familiar, onde o doente asmático chega primeiro - sendo que em situações mais severas pode ser encaminhado para o especialista hospitalar. Fazemos, nessas visitas, a apresentação formal dos dados científicos deste produto e da própria patologia.
Queremos mostrar aos profissionais de saúde que este produto constitui uma oportunidade para tratar melhor os doentes.
Queremos garantir que os doentes e profissionais de saúde têm a melhor terapêutica disponível. Queremos também atingir a liderança de mercado nesta área, que, no entanto, sabemos que não iremos conseguir nos próximos três anos, uma vez que há companhias com uma presença sólida na área respiratória e outras a entrar também. É um mercado muito concorrencial.
Estamos sempre à procura de oportunidades (recentemente, adquirimos um produto que já existia para o tratamento do cancro de próstata) e sinergias, uma vez que temos uma estrutura comercial que permite que isso aconteça.
Mas, a tendência da companhia é focar-se nas áreas onde já está presente. Sempre com o objetivo de acrescentar valor ao doente e ao profissional de saúde, permitindo o crescimento orgânico ou por aquisição, da nossa companhia.
Estamos a crescer. Tivemos um ano de 2020 "de pesadelo", porque duas das principais moléculas da companhia (que representavam 25% do nosso volume) começaram a enfrentar a concorrência de genéricos. Felizmente conseguimos compensar e já faturámos mais em 2021 e estamos a faturar em 2022 mais do que estávamos em 2019.
Por um lado, devido à entrada nas áreas respiratória e do cancro da próstata e, por outro, porque as moléculas que já tínhamos tiveram melhores resultados. Há um empreendedorismo interno que faz com que a companhia cresça. Isto dá-nos uma estabilidade que, provavelmente, a maior parte das companhias não têm. Devemos ter das maiores estruturas comerciais na área farmacêutica em Portugal - temos 100 pessoas na área comercial. Não prevemos alterações estruturais de futuro quanto à força de trabalho.
Um dos impactos imediatos tem a ver com o custo dos combustíveis que se no ano passado já estava alto, agora está muito alto. A indústria farmacêutica importa a maior parte das matérias-primas e de produto acabado e este aumento do preço dos combustíveis tem impacto a dois níveis: no custo do transporte, que já subiu, e na obtenção de algumas matérias-primas - como o alumínio, que utilizamos para embalar os medicamentos.
Os custos de fabrico dos medicamentos já aumentaram mais de 40% e os preços finais continuam a baixar. Ainda em fevereiro assistimos a uma revisão em baixa do preço dos fármacos.
Faz. Porque senão o que vai acontecer é que os medicamentos mais baratos, que custam poucos euros, vão sair do mercado porque as margens são diminutas ou mesmo negativas. E aí podem acontecer duas coisas: ou o doente não se trata ou então encontra outra alternativa, mais cara, o que não beneficia nem o doente nem o sistema. O mecanismo de revisão de preços é legal, mas não faz sentido que não seja atual e que permita que exista uma referenciação de preços para baixo (como existe) mas também para cima (que não existe, mesmo que a média dos países de referência seja mais alta).
Por outro lado, se falarmos em medicamentos de 40 ou 50 euros, a indústria farmacêutica pode ter capacidade de absorver o impacto, mas sobre estes não nos referimos em relação a aumentos de preços.
Tivemos problemas com um anti-ulceroso, com um medicamento para a próstata que esteve em rutura por falta de matéria-prima. Temos um problema com um medicamento para o tratamento da gota, em que não há alternativa terapêutica no mercado e que corre o risco de rutura prolongada e mesmo saída de mercado. Aguardamos urna resposta por parte do Infarmed mas ainda nada.
Comercializamos também um injetável que era fabricado em Itália, mas que parou o fabrico e agora apenas é fabricado na Turquia, o que significa custos de importação, transporte, fabrico mais altos. E o preço será o mesmo. Claro que não deixamos de ser urna empresa rentável - a nossa missão é entregar valor, não só aos doentes, mas também aos acionistas. Só mantemos estas quatro moléculas que enunciei porque há outras que dão benefício económico.
Há um mecanismo, ao nível do Infarmed, que permite uma revisão excecional de preços, durante dois anos. Nós temos alguns pedidos pendentes de aumento de preços. O problema é que a resposta (quando existe, porque, na maior parte das vezes, nem sequer há resposta) demora nove a doze meses.
Portanto, temos de rever a norma. Por outro lado, o que acontece é que o preço dos nossos medicamentos é calculado com base em quatro países de referência [Itália, Espanha, França e Eslovénia].
No mercado de ambulatório é a média destes quatro países, no hospital é o preço mais baixo dos quatro. Se o preço médio de um determinado medicamento for superior, não podemos subir o preço.
Mas nós sabemos que as economias de escala geram preços mais baratos (como a Espanhola e Italiana). Portugal compra em pequena quantidade e, por isso, nunca conseguiremos fazer o mesmo preço. Tem de haver um entendimento entre o governo e APIFARMA para permitir que haja uma revisão em alta do preço dos medicamentos mais baratos. Ou então vão desaparecer. A riqueza que a indústria farmacêutica produz é cada vez mais pequena.
Vai agravar-se inevitavelmente. Para ter uma ideia do aumento dos custos, nós enviamos alguns medicamentos para Angola.
Um contentor que antes custava três ou quatro mil euros agora custa 18 mil.
Também o custo do transporte de matérias-primas para Portugal, vindas da China por exemplo, triplicou - ainda efeito da pandemia. Outras sofrem atrasos de entrega gigantescas devido aos "lockdowns".
Tem havido, da parte deste novo governo, uma abertura ao diálogo. Abriu-se um canal de comunicação com a APIFARMA, o que é um ponto positivo. As expectativas são boas, mas o facto é que nada mudou e a diminuição dos preços dos medicamentos continua a acontecer.
O primeiro é o acesso ao mercado. Temos de encontrar uma regra objetiva, que implica uma avaliação fármaco-económica, e que envolva o doente. Quando surge um medicamento inovador, os doentes alemães têm acesso a esse fármaco em 130 dias e a Portugal só chega 500 dias depois disso, por causa da avaliação pelas autoridades competentes - o processo não é objetivo, as regras de comparação são complicadas, o processo administrativo e regulamentar não funciona.
Existem semanas inclusivé em que não conseguimos contactar o Infarmed que tem limitações de contacto. Somos o segundo ou pior país da Europa neste aspeto. O segundo desafio é a transição digital, da responsabilidade do Ministério da Saúde, mas também das instituições. Vimos que o acompanhamento de uma parte dos doentes de forma remota funciona, mas não podemos descurar os restantes doentes. Temos de perceber como vamos colocar o doente no centro do sistema. Temos uma oportunidade - a transição digital - que é também um risco.
O terceiro é a reindustrialização da Europa. Não podemos estar dependentes de mercados, como o indiano ou o chinês, para algumas matérias-primas e fornecimentos. Estes países têm riscos políticos e económicos grandes.
Algumas estão na Europa Central. Muitas deslocalizaram-se para o sudeste asiático, onde o custo da mão de obra é barato. Por exemplo, a China fornece 80% de todos os antibióticos dos EUA. Contudo, penso que agora já todos percebemos que temos de manter na Europa os ativos, o know-how e a capacidade produtiva. O grande desafio para Portugal era a atração da produção de medicamentos com valor acrescentado, como biológicos, produtos oncológicos. A produção leva à investigação e ao investimento. Deveríamos criar uma economia do medicamento.
Temos de demonstrar que temos bons recursos humanos, talento e capacidade para apoiar as empresas. Temos também de ter uma justiça célere, com tribunais comerciais que funcionem e que defendam as patentes de forma eficaz. Depois, temos de ter uma política fiscal atrativa para investimento e reinvestimento dos lucros - não deveríamos tributar todos os lucros, mas sim os lucros não aplicados nas empresas.
A Jaba Recordati investe 12%da faturação em I&D. Na calha, molécula promissora para pé diabético.
Recebemos um fast approval pela FDA, que atestou a eficácia da molécula e percebeu que existe uma necessidade clínica não satisfeita, uma vez que o pé diabético é urna patologia muito prevalente.
Está também a decorrer um estudo clínico em Israel, pois infelizmente, os ensaios clínicos em Portugal ainda demoram muito tempo,
são muito burocratizados, passam por várias comissões...
O objetivo é ser fabricado e que os headquarters desta parceria se mantenham no nosso país e acrescentem valor a Portugal.
Temos duas fases: a aprovação do ensaio pela CEIC e a operacionalização do ensaio nos hospitais - que, apesar dos médicos fantásticos que temos em Portugal, não estão preparados para ter alguém a tempo inteiro a fazer a gestão dos estudos clínicos.
Isto faz com que Portugal registe pouco mais de 100 ensaios por ano (comparando, só a região da Catalunha tem 180 e a Dinamarca três vezes mais). A Jaba Recordati está a levar a cabo o ensaio clínico de que lhe falei há pouco, em Israel, porque a aprovação
é rápida, bem como o recrutamento dos doentes.
"Temos que reindistrializar a Europa"
Falta a centralização do processo administrativo, isto é, do pedido do ensaio clínico. Estamos a concorrer com mercados como o Brasil e os países de leste, onde o custo dos ensaios clínicos é muito mais baixo e a aprovação é muito rápida (chega a demorar 1 semana na Bélgica). Em Portugal, demoramos quatro a doze meses a aprovar os ensaios, enquanto que, nos países nórdicos, por
exemplo a espera é de duas semanas.
Nestes países, há uma entidade que aprova o estudo e depois os hospitais candidatam-se e têm um prazo para recrutar os doentes. Em Portugal, cada hospital tem de aprovar o ensaio, e não há dentro dos hospitais um serviço que centralize o serviço de recrutamento dos doentes e tratamento dos dados, nem sequer a referenciação dos mesmos doentes para os centros especializados e onde decorrem os estudos. Não existe um número de contribuinte para os centros de I&D dentro dos hospitais que possa ter autonomia para contratar pessoas que suportem o estudo e receber os valores que a IFsuporta. É tudo muito disperso e mitigado.
Portugal não é um mercado atrativo. Criou-se, entretanto, uma entidade mista, entre público e privado, a AICIB, para dinamizar a realização de ensaios clínicos. Existe por parte do novo Secretário de Estado da saúde responsável por esta área (Dr Lacerda Sales) uma vontade e um projeto muito positivo para melhorar este cenário. Que traz inúmeros benefícios pois para além de os doentes terem acesso a terapias inovadoras mais cedo e a custo zero, com um claro benefício para o doente, para o médico que adquire experiência e conhecimento; mas também para o hospital e para o sistema de saúde, pois gera-se também, a partir dos ensaios clínicos, uma economia paralela, uma vez que as companhias farmacêuticas pagam para realizarem estes ensaios (aos técnicos, aos doentes, etc.).
Fonte: Jornal Saúde Online