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JABA RECORDATI S.A. - Portugal

Inovação tecnológica permitiu aumentar esperança média de vida em 20 anos. Big Data e 5G vão criar novos conceitos de medicina. Centro de simulação médica é aposta de futuro.

A inovação tecnológica tem influenciado positivamente a inovação na saúde, ajudando na descoberta e alcance de novos resultados de diagnóstico e tratamentos médicos, impactando na noção de bem-estar do doente e contribuindo para novos conceitos de medicina.

Esta é uma constatação para dois especialistas na área da saúde ouvidos pelo Jornal Económico, que alertam, contudo, que nenhuma inovação substitui o papel fundamental do médico e para a necessidade de cautela com eventuais riscos, no longo prazo, perante uma disrupção tecnológica na área da saúde.

"As inovações tecnológicas têm sido um dos motores de inovação na saúde e estão na base das maiores disrupções nesta área. Os impactos têm sido bastante significativos, com uma melhoria substancial tanto da qualidade da prestação de cuidados como dos resultados",

começa por afirmar Francisca Leite, diretora do Hospital da Luz Learning Health, instituição que vai apoiar o primeiro curso privado de medicina (desenvolvido pela Universidade Católica Portuguesa) e que inaugurou recentemente o maior centro de simulação médica de Portugal.

O impacto das inovações, que Francisca Leite refere, têm ajudado na "redução da mortalidade infantil e o aumento significativo da esperança médica de vida", além de que tem permitido "diagnosticar mais cedo, tratar mais, melhor e de forma mais precisa, monitorizar eficazmente a evolução do estado dos doentes (até à distância) e contribuir para uma melhor qualidade de vida".

Porém, num mundo cada vez mais digital à cuidados a ter com os dados pessoais."Todos os processos de aprovação exigem que as soluções sejam amplamente testadas antes de serem disponibilizadas aos profissionais ou doentes", ressalva.

Leitura idêntica faz Nelson Ferreira Pires, general manager da Jaba Recordati, uma companhia de referência do mercado ambulatório nacional e que integra o Health Cluster Portugal.

"A inovação tecnológica permitiu que em apenas 50 anos, aumentássemos a esperança média de vida mais de 20 anos",

sublinha o gestor, realçando que um novo conceito de envelhecimento foi criado - "o ativo".

Além disso, Nelson Ferreira Pires indica que inovação tecnológica "acrescentou muito valor ao diagnóstico e ao conhecimento médico". "Veja-se o exemplo do Covid-19, em que o mapeamento genético do vírus foi feito em menos de um mês e a vacina descoberta e produzida em 10 meses (quando antes duraria mais de 8 anos).

É um admirável mundo novo que nos permite reduzir bastante os riscos de erros na I&D, selecionar terapêuticas que já existem para tratar outras doenças, uma maior farmacovigilância dos efeitos secundários".

Outro exemplo de sucesso tecnológico na saúde (que ainda aguarda as devidas aprovações), mencionado por este gestor, é o da portuguesa LxBio, o primeiro laboratório a desenvolver o primeiro medicamento de de biotecnologia para tratamento do pé-diabético, com o apoio da Technophage.

"Conseguiram pela evidência demonstrada que a FDA (agência norte-americana do medicamento) fizesse a primeira aprovação de um estudo clínico de um medicamento português (que está a ser concluído em Israel) mas para além disso a FDA atribuiu, pela primeira vez, a um medicamento português (designado TP-102) , o estatuto de Tast track' na aprovação", o que vai acelerar o processo administrativo para colocar rapidamente o medicamento à disposição de médicos e doentes.

Nelson Ferreira Pires também entende que há cautelas a ter, "pois em qualquer novidade se incremental é menos intensa, mas se disruptiva é mais intensa existe o risco de existir um efeito desconhecido de longo prazo".

O mundo da saúde, e toda a indústria que desenvolve e avalia tratamentos e previne doenças, é tão complexo que qualquer disrupção pode alterar os atuais consensos. Por isso, tanto o general manager da Jaba Recordati como a diretora do Hospital da Luz Learning Health admitem que a inovação tecnológica, ao influenciar positivamente terapêuticas, pode alterar a noção de bem-estar.

Para Francisca Leite, "a inovação tecnológica é um driver da mudança" no bem-estar do doente, que é influenciado por "múltiplas dimensões" (sociais e económicas).

"Um facto interessante é que o bem-estar do doente deve ser levado em conta pelo médico ou outro profissional de saúde na gestão da sua doença. Sabemos hoje que os resultados em saúde dependem muitíssimo de outros factores para além dos cuidados médicos. De facto, estes explicam apenas 10% a 20% dos resultados em saúde. Os restantes 80 a 90% são explicados pela genética do indíviduo (20 a 30%), pelo seu comportamento (30 a 50%), pela envolvência física e ambiental (5 a 20%) e pelas circunstâncias sócio-económicas (15 a 40%)", comenta.

Nelson Ferreira Pires salienta, por sua vez, que as exigências no tratamento dos doentes "são cada vez maiores", por isso, todos querem "ter qualidade de vida sempre". "Desde bébés até sermos velhinhos", vinca. E a responsabilidade dessa exigência são os resultados da inovação tecnológica e as terapêuticas que proporcionam. Resultado?

"Estar doente, não ter qualidade vida a partir de uma determinada idade ou morrer, deixou de ser algo natural".

"Seria normal uma pessoa com 97 anos não viver até esta idade até há alguns anos (a esperança média de vida era de 60 anos e agora é de cerca de 83 anos). Hoje este falecimento é causa de abertura de um telejornal, porque faleceu com covid19. Basta pensar que investimos biliões de euros para descobrir melhor tecnologia de saúde que nos prolongue a vida e nos dê dignidade na morte", resume.

Big Data e 5G vão criar novos conceitos de medicina

As mudanças geradas pela inovação tecnológica na saúde não se sentem apenas junto da comunidade médica, farmacêutica ou entre os doentes.

Também levou a novos paradigmas em processos administrativos ou na aposta de empresas, tradicionalmente fora do espetro da saúde, a olharem para o potencial de desenvolverem serviços ou produtos nesta área.

"Julgo que o big data e o 5G permitirão criar um novo conceito de medicina, inclusive com novos players que armazenam já hoje muitos dados, como a Apple ou a Google.", aposta Nelson Ferreira Pires.

Para o gestor estas duas tecnologias, em particular, vão levar a "uma reengenharia" de processos, produtos e pessoas em diferentes áreas, incluindo a saúde. Os dois modelos vão permitir "conectar sistemas, armazenar e transformar dados em informação", culminando no diagnóstico à distância, no agendamento de consultas remotas ou definidos matrizes de risco.

No fundo, definir workflows e indicadores-chave de desempenho, reduzindo "botdenecks". "Só desta forma conseguimos ter uma vacina para tratar o Covid-19 em 10 meses, porque a inteligência artificial permitiu mapear geneticamente o vírus e identificar as plataformas que proporcionariam o desenvolvimento das vacinas", relembra.

No entanto, "a intervenção humana será sempre necessária, para validar o sistema e as decisões", sendo que este cenário não é um fim em si mesmo", mas, mais uma "ferramenta" fruto da inovação tecnológica.


Fonte: O Jornal Económico