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JABA RECORDATI S.A. - Portugal
Inovação e Tecnologia no Sector da Saúde

A indústria do medicamento recorre cada vez mais às novas tecnologias para desenvolver tratamentos mais eficazes e seguros para os doentes.
 

Inovação no sector da saúde

A inovação no sector da saúde contribui cada vez mais para a descoberta e o desenvolvimento de fármacos que previnem ou tratam doenças, devolvendo qualidade de vida aos doentes. Com um investimento de cerca de1,5 milhões de euros nas áreas de investigação em Portugal, a Jaba Recordati recorre à inteligência artificial e a outras tecnologias para prever quais as substâncias com maior probabilidade de sucesso no combate a determinadas doenças. Nelson Ferreira Pires, director-geral e administrador da Jaba Recordati Portugal, falou com a Executive Digest sobre a inovação na área do medicamento e as tendências de futuro que irão revolucionar o sector da saúde nos próximos anos.

Quais os grandes investimentos actuais da Jaba Recordati e em que áreas da medicina?

Investimos anualmente em Portugal cerca de 1,5 milhões de euros em Investigação e Desenvolvimento (I&D). Estamos a investir numa área disruptiva do pé diabético, mas também na oncologia. Além deste investimento directo, investimos mais de 2 milhões em formação pós graduada de profissionais de saúde e publicações científicas. As nossas principais áreas são as doenças relacionadas com a área cardiovascular, urológica, gastroenterologia, pediatria e sistema nervoso central. Temos também uma área de produtos OTC muito conhecidos, como o Transact lat®, o Microlax® e o Guronsan®, bem como uma área de medicamentos genéricos para poder proporcionar tratamentos acessíveis com qualidade de fabrico a todos os doentes.

De que forma a inovação contribui para o desenvolvimento da investigação em saúde da Jaba Recordati?

Julgo que são a única forma de crescermos ou, pelo menos, de mantermos o nosso negócio. O ano passado, dois dos nossos principais produtos perderam os direitos de propriedade intelectual. Estamos a perder 50% do volume de negócios nestes produtos (ou 5 milhões de euros). Se não fossem os medica- mentos novos, não conseguiríamos estar a crescer como estamos este ano. Todos imaginam que a indústria farmacêutica deve estar a ganhar muito dinheiro, mas não está. O mercado está a cair, pois existiram menos consultas, cirurgias, episódios de urgência e menor acesso ao profissional de saúde por parte do cidadão. Felizmente, com o lançamento de um produto novo para tratamento da hipertensão e outro na área da esquizofrenia, conseguimos compensar parte das quebras de vendas que tivemos. E com isso, manter os postos de trabalho, não recorrer ao lay-off e ter aumentos salariais, garantindo a segurança de todos os colaboradores com medidas extra.

Nelson Ferreira Pires, director-geral e administrador da Jaba Pecordati Portugal

Como é que tecnologias como a inteligência artificial ou o machine learning se relacionam, hoje, com a área da saúde?

São fundamentais, e começa desde logo na investigação de novos medicamentos. Basta pensar que antes destas tecnologias, os cientistas tinham que testar todos os potenciais medicamentos, quando agora, a inteligência artificial, com o algoritmo certo, consegue estimar quais são aqueles com maior probabilidade de terem sucesso nos estudos clínicos. Vimos isso com o tratamento da COVID-19, em que um super computador em Nova Iorque estudou todos os potenciais medicamentos existentes que poderiam ser úteis para tratar esta doença. Fê-lo em apenas algumas semanas, quando o ser humano demoraria anos. Mas as vantagens não ficam por aqui. São evidentes ao nível da gestão (por exemplo elaborar um forecast de vendas passa a ser muito mais simples, pois as variáveis podem ser todas levadas em conta), mas também no controlo de farmacovigilância da segurança dos medicamentos depois de estarem no mercado. Outro exemplo é a serialização, pois cada caixa de medicamento tem um código único (para impedir a falsificação de medicamentos que proliferava na Internet) e este está armazenado na Agência Europeia do medicamento; isto só é possível porque o mundo digital o permite.

E qual o impacto prático que esta inovação está a ter nos tratamentos actuais, ao nível da eficácia, segurança, comodidade, qualidade de vida e custo?

Penso que está a permitir o acesso mais rápido aos tratamentos, o que se traduz em vidas salvas, como são exemplo as vacinas contra a COVID-19. A indústria farmacêutica demorou apenas nove meses a investigar, desenvolver e fabricar as vacinas, quando no passado demoraria cerca de três a cinco anos para uma vacina e 10 para um medicamento. Tudo isto por causa da inteligência artificial, da capacidade investimento das empresas farmacêuticas (foram investidos mais de 10 biliões de dólares nesta investigação, dos quais 80% pela indústria farma-cêutica e não, como erroneamente alguns querem fazer crer, pelos estados), pelo rápido mapeamento genético do vírus (mais uma vez a inteligência artificial), entre muitas outras variáveis. Acima de tudo permitem acelerar o processo de I&D e garantir a farmacovigilância e segurança dos medicamentos

De que forma a pandemia de COVID-19 veio acelerar ou até reforçar a inovação no sector da saúde e, em particular, na I&D da Jaba Recordati?

A pandemia de COVID-19 não é uma área prioritária da Jaba Recordati. Apenas apoiamos um centro de investigação em Portugal que desenvolveu uma plataforma para este vírus. A nível transversal, julgo que veio atrasar a investigação noutras áreas, pois de um momento para o outro, todas as principais companhias tentaram ter uma vacina ou tratamento para a CO- VID-19, atrasando todos os outros projectos. No nosso caso isso não aconteceu pois, como disse, decidimos não investir neste segmento porque já existiam muitas opções positivas de outras companhias.

Contribuímos com os resultados nos produtos desenvolvidos pelo grupo recordati a nível mundial e, sem este contributo, não poderia existir investimento em I&D de novos produtos
 

Quais as áreas terapêuticas em que estão a ocorrer actualmente as maiores inovações e porquê?

As maiores inovações ocorrem em duas áreas, na oncologia e nas doenças raras. Felizmente começamos a ver inovação disruptiva nestes segmentos, pois todos conhecemos ou temos alguém na família que faleceu com um cancro ou tem um síndrome estranho que impede de ter uma vida normal e morrer mais cedo do que seria a normalidade. Permita apenas lembrar que há 30 anos, o HIV era uma doença mortal e hoje é crónica, e há 10 anos a hepatite era mortal se não existisse transplantação (com todos os riscos e limitações de qualidade de vida que isso acarreta) e hoje pode ser tratada e erradicada. Estes são os benefícios de uma indústria farmacêutica forte, com capacidade de investimento e de remunerar os seus accionistas. Um novo medicamento custa a investigar entre 800 milhões a um bilião de dólares.

Quais os grandes desafios que persistem à inovação em saúde?

Julgo que neste momento são quatro desafios:

  • A capacidade de continuar a inovar nas grandes doenças que estão já devidamente acomodadas com os tratamentos existentes. Falo da hipertensão, colesterol, etc. O que existe é inovação incremental, pois os novos medicamentos não tratam com mais eficácia estas doenças. Tratam melhor. Ou seja, de uma posologia de três comprimidos por dia passamos a um semanal, mantendo a eficácia. Isto é positivo? Bastante, pois com três comprimidos por dia, certamente algumas tomas são esquecidas e com um comprimido por semana, não. Aumenta a compliance e adesão do doente ao tratamento e isto gera mais eficácia;
  • A capacidade dos estados encontrarem um modelo de financiamento da inovação que está cada vez mais cara, numa população que está a envelhecer e cada vez tem mais necessidade destes novos e inovadores tratamentos.
  • A capacidade dos estados continuarem a financiar de forma

Á inovação crescente a que assistimos hoje no sector da saúde vai ter impacto na longevidade a curto ou médio prazo?

Julgo que o impacto já se verificou, vivemos hoje até aos 83 anos, quando há 50 anos, morríamos com 60 anos de idade. E somos "perennials", ou seja idosos com qualidade de vida e envelhecimento ativo. Este é o maior benefício. Cada vez que fazemos algo, sabemos que estamos a salvar uma vida ou a acrescentar melhor qualidade de vida, a ajudar a economia pois reduzimos as baixas médicas, a permitir que os cidadãos vivam melhor.

Jaba Recordati

A Jaba Recordati tem um investimento anual de cerca de 1,5 milhões de euros em Portugal, na área de I&D

Qual o contributo português para o desenvolvimento destas inovações no seio do grupo?

Como disse contribuímos com os resultados nos produtos desenvolvidos pelo Grupo Recordati a nível mundial e, sem este contributo, não poderia existir investimento em I&D de novos produtos. Além disso, temos o investimento de1,5 milhões de euros anuais, sendo que um dos medicamentos em desenvolvimento está já na fase clínica de estudo, e é o primeiro medicamento desenvolvido em Portugal, com um estudo clínico aprovado pela agência do medicamento americana (FDA) em "fast approval" (ou seja, considerado essencial). Este pode ser um contributo importante para o grupo no futuro. Tudo depende do desenvolvimento clínico que começou já há alguns meses. Por outro lado, desenvolvemos um suplemento alimentar em Portugal, para tratamento da hiperplasia benigna da próstata, que está a começar a ser um sucesso.
 

Cada vez que fazemos algo, sabemos que estamos a salvar uma vida ou a acrescentar melhor qualidade de vida
 

Quais as tendências de futuro no sector da saúde?

Julgo que a pandemia acelerou muitas das tendências que todos antecipavam, enquanto outras se mantêm relevantes, nomeadamente:

  • O cidadão tem de estar no centro do sistema de saúde e participar mais, quer na prevenção (com estilos de vida saudável), quer no tratamento (mas não através do "Dr. Google", cuja informação na área da saúde deve começar a ser indexada);
  • Os estados têm de encontrar uma forma de aumentar o financia- mento em saúde numa população envelhecida, cada vez com mais necessidades, nomeadamente através de modelos de "pay per performance", pelo que terão que investir na digitalização dos seus sistemas de forma integrada;
  • A inteligência artificial irá ser uma realidade presente em to- das as fases, desde a investigação, diagnóstico e tratamento dos cidadãos;
  • A telemedicina vai começar a ser uma realidade cada vez mais presente;
  • A Indústria farmacêutica continuará a investir numa economia verde e circular;
  • Julgo que ainda nesta década ire- mos assistir a uma nova pandemia neste mundo global e transnacional, pelo que será importante o mundo estar preparado para responder de forma eficaz;
  • Os modelos de protocolo em medicina vão cada vez ser mais personalizados;
  • Os diagnósticos serão cada vez mais rápidos com a automatização e desenvolvimento dos mesmos, através da criação de ecossistemas integrativos do digital e humano;
  • Novos players que entrarão no mercado, como a Google, que tem mais informação sobre os doentes que muitos sistemas de saúde ou seguros de saúde.