O inicio do nascimento dos dentes marca um momento muito importante da vida da criança e traz implicações para os que lidam directamente com esta – Pais, cuidadores e profissionais de saúde.
Durante a erupção, os dentes podem ultrapassar a mucosa oral sem produzir nenhum sintoma. Porém em dois terços das crianças, podem ser observados sintomas locais na zona de ruptura da mucosa.5
A erupção dentária, pelas alterações que a acompanham surge como um transtorno para as crianças deixando os pais com dúvidas e ansiedade.
Existe polémica acerca do processo de erupção, se fisiológico ou patológico, levando a posições divergentes a respeito da natureza do processo.
A primeira corrente considera a erupção um processo fisiológico e os sintomas apresentados puramente coincidentes mas 92,7% dos profissionais afirmam que o processo de erupção dentária gera desconforto.2
A segunda corrente acredita que, apesar de fisiológica, pode sofrer e fazer-se acompanhar de manifestações gerais ou locais. Onde a maioria dos pediatras afirma haver correlação entre as alterações observadas e a erupção.5
Alterações locais e sistémicas relatadas na literatura como associadas ao processo de erupção dentária [ adaptado de tabela 1 ]1
Embora as alterações locais como o edema, eritema e prurido gengival estejam directamente ligados à erupção dental, outros factores sistémicos de ordem geral, como febre, irritabilidade, perda de sono e apetite e até mesmo convulsões não estão claramente associados.1
Quanto ao timing dos sintomas, estes foram mais frequentes nos 4 dias que antecedem a erupção, no dia da erupção e nos 3 dias seguintes. Estes 8 dias são considerados o período dos sintomas da erupção dental (para cada dente).
93,9% dos pediatras e 75,7% das mães descreveram alterações na saúde das crianças durante o processo de erupção dentária.2
Percepção dos cuidadores da sintomatologia durante a erupção dentária. 89,65% dos pais relatam a presença de sintomatologia durante a erupção dentária.3
Distribuição das alterações observadas pelas mães durante o período de erupção dentária. [ adaptado de fig. 3 ]3
Percepção dos médicos da sintomatologia durante a erupção dentária. 94,6% dos profissionais (pediatras e dentistas) estabeleceram uma correlação entre erupção dentária e presença de sintomatologia – 89,3% observaram manifestações locais e 80,4% observaram manifestações sistémicas.4
Distribuição das manifestações observadas por pediatras e dentistas durante a erupção dentária [ adaptado de gráfico 1 ]4
Outro estudo aponta que 76% dos pediatras acreditam que o processo de erupção dentária pode estar associado a manifestações sistémicas e/ou locais.
Manifestações relatadas pelos médicos pediatras durante a erupção dentária. [ adaptado gráfico 1 ]12
É o distúrbio mais frequente encontrado na erupção dos dentes decíduos anteriores e o segundo de maior frequência durante a erupção dos dentes posteriores. A sua duração varia de 2 a 3 dias, mas pode chegar a 10 dias.1
Esta pode ser provocada pelo facto da criança colocar objectos na boca podendo lesar a mucosa. Outra razão será a infecção oral pelo vírus herpes simples, ocasionando a gengivo-estomatite herpética primária. É importante que esta patologia seja incluída no diagnóstico diferencial de bebés com alterações durante a erupção dentária, uma vez que apresentam sinais e sintomas coincidentes como febre, irritabilidade e dificuldade na alimentação.13
Estes sintomas estão relacionados com a presença de imunoglobulina E nos tecidos proximais aos dentes em erupção. As proteínas do esmalte podem desencadear uma reacção alérgica na qual a libertação de histamina pode causar os sintomas relatados.1
O aumento da salivação pode ser explicado pela maturação das glândulas salivares, altura coincidente com a diversificação alimentar. Por vezes não é só um aumento da produção de saliva mas esta que se torna mais viscosa e difícil de engolir levando o bebé a babar-se mais. O facto do bebé colocar mais vezes a mão e/ou objectos na boca contribui igualmente para este fenómeno.
As alterações cutâneas não ocorrem devido à erupção dos dentes mas sim porque a pele dos bebés é muito delicada e sensível o que favorece o aparecimento de alterações cutâneas na região peribucal devido ao escoamento de saliva para a face.
A vermelhidão na face (rubor) pode dever-se à inflamação gengival. Mas qualquer outro tipo de vermelhidão que não na face não foi estatisticamente associado à erupção dentária devendo ser referenciado ao médico.1
A inflamação produzida localmente pode mudar o peristaltismo intestinal. Alterações GI são comuns mas podem apresentar outras causas.1
Diarreia: alguns pediatras relacionam a diarreia à sucção digital em precárias condições higiénicas que estaria directamente associado a infecções.
Outra possibilidade é este sintoma estar relacionado à alimentação, uma vez que novos alimentos são introduzidos nesta fase, na dieta da criança. Entretanto, outras evidências concluíram que o stress é um fator que provoca alterações psicofisiológicas.12
Nesta fase a criança apresenta uma menor resistência e maior susceptibilidade às doenças e infecções, o que pode explicar uma coincidência entre a erupção dos dentes decíduos e sintomas gerais.12
Ocorre o que os especialistas chamam de simultaneidade de eventos. A partir do 6º mês de vida o bebé começa a gatinhar levando objectos à boca que se encontram no chão e começa a diversificação alimentar. Isto proporciona mais contacto com microorganismos estranhos ao seu sistema imunológico que está em processo de formação.
A febre associada à erupção decorre do processo local no qual o dente em erupção exerce pressão sobre os tecidos fibrosos da gengiva e provoca lesões com consequente dor e processo in amatório irritando assim o nervo trigêmeo que, por sua vez, estimula o centro de regulação da temperatura. Outra hipótese é que lipossacarídeos normalmente estáveis e inativos são libertados aquando da destruição do tecido e essas substâncias agiriam como pirógenos, causando a febre.12
A erupção múltipla dos dentes pode causar stress com consequente queda de resistência orgânica deixando o individuo sujeito a infecções levando a febre.4
A febre também poderá estar relacionada com reacções in amatórias na cavidade oral com participação de mastócitos e libertação de imunoglobulinas que resulta em alterações toxémicas que poderiam ser causadas por uma infecção herpética primária não diagnosticada.2
A febre alta (> 38ºC) não é sintoma de erupção dentária devendo-se realizar uma avaliação apropriada para descobrir outras possíveis causas.1
Este sintoma poderá ser devido à irritação do bebé durante o aleitamento, natural ou não, porque à medida que mama a sucção comprime a gengiva podendo ocasionar dor recusando assim a mama ou biberão.1 A mastigação também se torna mais difícil e dolorosa e como é uma competência ainda em aprendizagem poderá haver uma regressão e recusa de alimentos sólidos.
Pesquisas revelam que a irritabilidade tem uma relação estatisticamente significativa com a erupção dentária sendo dos sintomas mais relatados por profissionais e cuidadores.4
Possíveis causas para este comportamento vão desde a dor e incómodo até à ansiedade experimentada pelos bebés nesta fase critica de desenvolvimento.
A estrutura nasal está subjacente à mucosa oral podendo reagir com corrimento nasal aquando da inflamação na zona e a libertação de mediadores inflamatórios.
Além disso, a gengiva traumatizada pela passagem do novo dente pode servir de porta de entrada para uma infecção viral provocando então uma infecção concomitante.
As alterações do sono poderiam estar relacionadas à irritabilidade, levando o bebé a apresentar insónia ou sono agitado. Foi observado uma incidência de 77,22% de insónia associada à erupção dentária.13
Crê-se que a presença de interleucina 1 (IL-1) e o fator de necrose tumoral (TNF) durante a erupção dentária estarão ligados a distúrbios do sono.13
Numa visão psicanalista, há ainda a perda primária do contato com a mãe, uma vez que a erupção dentária coincide com a ruptura do vínculo entre a boca e o seio, deslocando o bebê de sua posição de sugador para triturador, com implicações no plano emocional. Todas estas alterações muitas vezes levam a criança a uma crise de ansiedade, com mudança de humor, sono agitado, irritabilidade e reações de medo frente a estímulos inofensivos.13
Apesar deste tipo de manifestação não estar no topo das manifestações associadas à erupção dentária, quando surge tem grande impacto pois afecta o bem-estar do bebé e compromete o descanso de toda a família, criando um ciclo de irritabilidade e falta de paciência comum a todos os elementos da família.
Criança com manifestação de irritabilidade e mal-estar
Embora o exacto mecanismo da erupção dentária, com todas as suas alterações tissulares e imunológicas que a acompanham, ainda não esteja totalmente elucidada pela ciência, as evidências clínicas e as experiências vivenciadas pela maioria das mães e em inúmeras pesquisas apontam para a aceitação dessa relação causal direta.2
Mesmo considerando-se a erupção dentária como um evento fisiológico, verificou-se que os sinais e sintomas ocorrem, visto que a criança passa por intensas modificações sociais, emocionais, nutricionais, entre outras, durante esta fase de desenvolvimento.13
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Referências Bibliográficas
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