Tenho assistido com alguma indignação às avaliações que têm sido feitas em relação ao Governo na gestão da pandemia. E indignação porque:
Portanto a gestão do Serviço Nacional de saúde foi feita com “navegação à vista”, como qualquer outro teria feito e outros países fizeram. Alguns, como o Reino Unido que mudou da estratégia durante a primeira curva, seguindo uma estratégia de imunização de grupo no início para achatamento da curva depois.
Afirmar que foi mal gerida é não avaliar os dados.
Pois quando comparamos com os restantes países com os quais somos comparáveis (e alguns muito mais ricos que nós), temos: mais testes realizados, menos infectados, menos internados nos hospitais e nas UCIs, menos mortos por COVID… Ou seja, quando comparamos com o que é comparável, Portugal conseguiu gerir a pandemia até agora, de uma forma eficiente.
Conseguindo ainda não agravar demais a taxa de desemprego e com menor quebra do PIB do que estimado por todos (inclusivé pelo próprio Governo). Portanto, não é correcto afirmar que gerimos mal a pandemia. Gerimos da forma possível, mas muito melhor que outros países. Tendo conseguido “achatar a curva de infectados internados” que podem fazer com que os hospitais colapsem.
No entanto, cometemos erros básicos, alguns por má orientação da OMS, como a utilização das máscaras (que deve ser generalizada para mim), da falta de obrigatoriedade de um modelo de stayaway covid (que para mim devia ser obrigatório, quer seja a app ou uma pulseira, de forma a rastrear os contactos de risco de forma imediata e sem utilizar recursos humanos), da disponibilização imediata de máscaras e álcool-gel no início da pandemia, das conferências de imprensa diárias que já não acrescentam valor, apesar de sabermos as regras de distanciamento e isolamento continuamos a fazer festas privadas, etc etc etc.
Até aqui é injusto dizer que está a ser mal gerida pelo Ministério da Saúde.
O que está a ser mal gerido é que o Estado e o Governo se esqueceram das outras doenças, algumas delas inadiáveis e cujas consequências catastróficas apenas se verão daqui a algum tempo. Mas no imediato, morreram mais 5.000 pessoas por causas não relacionadas com o COVID em apenas 6 meses (mais do dobro do que o número de mortos por COVID) do que nos 5 anos anteriores.
Porquê? Porque consideramos que temos um Serviço Nacional de Saúde (ou seja exclusivamente público) e não um Sistema Nacional de Saúde (que para além de público, deve integrar o social, o privado e o associativo; que juntos representam mais de 50% da saúde em Portugal). Não é á toa que mais 500.000 portugueses fizeram um seguro de saúde no primeiro trimestre de 2020, quando perceberam que o SNS não iria responder ás suas necessidades. E aqui, sim, os governantes geriram mal:
Geriram mal por muitos motivos, a maior parte por desconhecimento, mas como todos os países e a própria OMS. Mas afirmar que a gestão da pandemia não está a ser bem feita é incorrecto.
Agora podemos sempre afirmar que, se fossemos nós, faríamos melhor. Tenho algumas dúvidas, mas…
Agora certamente se tivessem planeado e operacionalizado melhor durante o Verão, certamente não estávamos a abandonar os cidadãos que não sofrem de COVID nem sequer a ver o sistema hospitalar colapsar, ou os cuidados de saúde primários fechados para os cidadãos que deles necessitam! E as consequências destas decisões apenas “terão eco” daqui a algum tempo!!!
Fonte: Executive Digest