Nelson Ferreira Pires
Director Geral e Administrador da Jaba Recordati Portugal, Recordati UK e Recordati Ireland
António Costa chamou um gestor experiente para apresentar um plano de recuperação estratégica do país, no pós-Covid. Confesso que achei uma ideia ótima, mas depois de ler o plano fiquei com mais dúvidas do que certezas. Julgo que um plano deve partir do geral para o particular, deve criar planos táticos da definição estratégica feita e deve aproveitar o que já existe de bom e bem feito. Criar os clusters que o Professor Porter já apresentou há 26 anos ao nosso País. Este gestor apresentou, ao todo, dezenas de propostas em traços gerais categorizadas em dez pontos cruciais: ferrovia, reindustrialização, reconversão industrial, recapitalização das empresas, Estado, turismo, transição energética, saúde, questão social.
As principais medidas seguem-se aqui:
Qual o motivo da minha desilusão? Falta definir a SWOT de Portugal, que deve ser a base do nosso plano Estratégico:
Falta, portanto, a base do plano. Que incluísse a agricultura e o sector vinícola; o desenvolvimento da indústria corticeira e do azeite no Alentejo; da aeronáutica no Alentejo e no Porto; da indústria automóvel na bacia de Lisboa e beira alta; da indústria de moldes e do vidro na grande zona Oeste; de desenvolvimento da indústria têxtil, do mobiliário e do calçado no norte e centro com a criação da marca Portugal e estímulo à criação de marcas próprias (em lugar de fabricar para terceiros); do desenvolvimento da criação de ostras e pescado no Algarve e norte do país; a criação do turismo cultural fora das grandes cidades; do estímulo às PMEs do Norte com grande capacidade inovadora e exportadora; da ligação da ferrovia de alta-velocidade com a bitola Europeia e não apenas Lisboa-Porto, mas também do desenvolvimento da linha do Algarve; do desenvolvimento do metro de Lisboa e Porto com o objetivo de reduzir a entrada de carros na capital e estimular o consumo turístico deste transporte com arte e cultura nestes locais… Falta tanta coisa e apenas vejo um plano para gastar dinheiro em grandes projetos que todos já conhecíamos. Para quê investir no hidrogénio antes de todos os outros países quando representamos 0.15% da poluição mundial e o custo da tecnologia é elevadíssimo? Não é melhor esperar e adotar esta tecnologia quando os grandes países o fizerem e o custo é muito mais baixo? Em lugar disso aproveitar para continuar a desenvolver energia verde através do vento, mar, rios, onde já investimos tanto!
E o que é que isto tudo tem a ver com saúde? Tudo, pois também deveria incluir como medidas estratégicas neste setor: a criação da indústria do medicamento na zona centro com o fabrico de pequenos lotes para a Europa e que foram transferidos para a China (que são gigantes lotes para Portugal); da atração de doentes de outros países em diversas especialidades onde temos capacidade instalada e competitividade de preço no tratamento a apresentar as seguradoras da Europa; da atração para realização de ensaios clínicos (dado que temos excelentes centros de I&D hospitalares e universitários); da atração dos residentes seniores de outros países com elevado rendimento comparado com Portugal (pela segurança, condições de vida mais baixas, meteorologia, simpatia, mas também por um sistema de saúde eficiente); da integração do sistema de saúde e do “patient journey” por este sistema (com exames, consultas, enfermagem, etc.) através da Tis; mas também da isenção do IRC do valor de novos investimentos das empresas farmacêuticas no País ou do pagamento de mais valias nos empresários de saúde que decidem utilizar o seu capital investido em bolsa para investir em Portugal.
É dinheiro de impostos que não existe, um dia vão ser cobrados, dificultando e afugentando os investidores e criando nos que não conseguem ocultar o rendimento, a sensação que “levam o país às costas” e que o estado social falhou, pois penaliza os que pagam impostos (que são menos de 50% dos trabalhadores, se bem me recordo) e que têm de trabalhar até junho para os pagar!!!
Fonte: Health News