A crise do COVID-19 destapou um problema iminente, desconhecido para a maioria e que os restantes não falam dele: a dependência da Europa e dos EUA em relação à China e à Índia, na produção de produtos farmacêuticos é elevadíssima. Em algum momento na cadeia de valor do medicamento, estes 2 países contribuem com alguma atividade ou produção fundamental (no fabricos dos princípios ativos, formulações, excipientes, etc).
As empresas farmacêuticas multinacionais já não lidam com todas as etapas do processo de fabrico de medicamentos, e focam a sua atenção na I&D, externalizando tudo o resto. Por exemplo, os medicamentos antirretrovirais utilizados em todo o mundo para combater a SIDA, são 80% fabricados para todo o mundo por empresas farmacêuticas indianas. No Brasil, a Índia produz 94% dos medicamentos que tratam a hipertensão, diabetes e outras doenças.
No entanto, esta cadeia de intrincada de fabrico, esconde outro dado muito importante, pois a própria Índia depende em 70% do fornecimento de produtos chineses para a fabricação desses mesmos medicamentos. Por isso mesmo, sentiu os efeitos da crise, quando começou a epidemia na região de Hubei e as atividades foram paralisadas e viu o seu mercado interno a não ser abastecido. Por isso, de forma a proteger os doentes indianos, proibiu as vendas ao exterior de 14 ingredientes ativos e suas formulações derivadas, incluindo paracetamol e vários antibióticos.
Provocando a rutura nos mercados Europeus e Americanos.
Em suma, a Índia é considerada a farmácia do mundo, pois representa cerca de 20% das exportações globais de medicamentos (em termos de volume), e esta depende da China no supply chain. Com benefícios relevantes para estes países, pois a Índia e Singapura têm o mais alto racio de balança comercial positivo no segmento Farmacêutico, quase 90% de exportações e apenas 10% importações, em valor.
Obviamente a IF retira benefícios desta deslocalização, embora muitas vezes forçada pelos baixos preços na Europa, custos elevadíssimos da I&D e pela quebra de patentes. Atingem-se elevados ganhos de eficiência gerados pela divisão do processo produtivo em segmentos altamente especializados, ligados entre si por uma robusta rede logística que permite às empresas reduzir inventários e adotar um modelo de produção “just in time.
Consegue-se uma combinação de fatores como o acesso a mão-de-obra barata, a redução dos custos com regulação ou a especialização tecnológica.
Tudo em resultados da integração das economias mundiais e da globalização.
Os riscos são, no entanto, elevadíssimos, em ter um sector estratégico como este, dependente de países terceiros, nomeadamente fora da Europa. Algo que o professor Michael Porter já caracterizou há muito tempo, com o seu modelo das 5 forças, aqui caracterízado pela elevada dependência dos fornecedores. Riscos e ameaças como:
Face a tudo isto, é aqui que deve entrar a dita “bazuca” pela oportunidade gerada nesta crise de encontrar soluções para o “reshoring” nos países Europeus, deste sector estratégico para a economia mas acima de tudo, para a saúde pública.
E como fazê-lo? De forma simples, sem querer inventar a roda com tecnologias pouco demonstradas e caras (como o hidrogénio). Basta que a estratégia da Europa se foque:
Em conclusão, uma série de medidas que podem ser financiadas pela dita “bazuca” e sustentada numa visão de longo prazo num sector estratégico, que irá promover a saúde pública, o bem estar dos cidadãos, o emprego, a economia verde, o desenvolvimento sustentável e a inovação.
Fonte: Executive Digest
Parece ser claro para a generalidade dos líderes empresariais que a imunidade conseguida através da vacinação só se fará sentir no final do ano ou em 2022.